Havaí é pioneiro no projeto de um seguro-saúde para todos
- Cleide Klock
- Direto de Honolulu
Enquanto a política do Partido Republicano defende o 1% da população mais rica do país, os democratas sempre gostam de frisar que estão do lado dos outros 99%. As teclas mais batidas por Obama durante os últimos quatro anos são a diminuição de impostos para a classe média, o aumento para os milionários e também o acesso à saúde para todos. Uma das razões que fazem com que pelo menos 70% da população havaiana vote historicamente nos democratas é o apoio aos trabalhadores, à educação e o pioneirismo de um plano que dá acesso a médicos e hospitais para aqueles que não podem pagar pelos altos preços dos planos particulares.
Mais sobre o Havaí
Um governo republicano em 50 anos
Defesa da cultura local e do meio-ambiente
Desde 1950, os agricultores sempre apoiaram os democratas. Isso porque naquela época, essa classe era quase escravizada. Foi o partido de Obama o responsável por mostrar a eles os direitos trabalhistas, por exemplo. A oposição sempre defendeu os donos de terra, que são minoria. Apesar de o Estado ter hoje como atividades principais o turismo e o setor militar, agricultura e pecuária sempre tiveram um papel fundamental para a economia e cultura local. Além da exportação de produtos como café, abacaxi e cana-de-açúcar, o setor tem como uma das principais funções fornecer alimentos para consumo local, pois o Havaí está há mais de quatro mil quilômetros do continente. Além disso, as grandes fazendas também são rotas turísticas.
Plano de Saúde
O Havaí é pioneiro ¿ e sempre citado como exemplo - na implantação de um plano de saúde universal, semelhante ao projeto nacional conhecido como ObamaCare, que o presidente Barack Obama tem como maior bandeira de campanha e de governo. De acordo com o censo de 2010, 91,2% dos moradores têm seguro saúde. Esse foi mais um mérito dos democratas que estiveram no poder nas últimas décadas. Uma lei que entrou em vigor em 1974 (Hawaii Prepaid Health Care Act) obriga os empregadores a oferecerem planos de saúde aos funcionários que trabalham mais de 20 horas semanais. Em 1993, o Estado também aprovou uma reforma no sistema que dá auxílio às pessoas de baixo poder aquisitivo. Desde então, quem recebe menos de US$ 23 mil por ano, pode receber atendimento à saúde de graça.
O investimento num plano de acesso universal já traz resultados na prática. A expectativa de vida é a mais alta do país, as pessoas vivem em média 81,5 anos. Apesar de ter uma das taxas mais altas de incidência de câncer de mama, o Estado tem a menor taxa de mortalidade em decorrência da doença. O atendimento de emergência tem, proporcionamente, quase metade do número de visitas anuais, comparando com os outros 49 Estados da federação.
Porém, as ilhas também foram fortemente afetadas com a crise que estourou em 2008, e o governo se viu obrigado a cortar custos. Empresários vêm contratando mais funcionários que trabalhem menos de 20 horas por semana para não precisarem pagar o seguro médico. A taxa de desemprego que no passado beirava os 3%, hoje já atinge 6% da população (o índice nacional é 7,8%).
Depois do Havaí, o Estado de Massachusetts implantou em 2006 uma reforma no sistema de saúde, completando assim os únicos dois Estados do país com um projeto de acesso universal. Porém, lá foi um republicano quem fez a reforma: Mitt Romney.
Educação
O americano Joseph Laszio, 72 anos, supervisor do Colégio de Educação da Universidade do Havaí é filiado ao partido democrata há várias décadas. "Por estar sempre ligado à educação pública e às associações de professores, eu sempre voto nos candidatos que dão apoio a minha área. E sempre foram os democratas que apoiaram a educação", diz ele. "Os democratas também são mais liberais e acho que a maior parte dos políticos do partido fez uma boa administração aqui no Estado", argumenta Laszio.
Numa avaliação sobre a administração Barack Obama - Laszio conhece a irmã do presidente Maya Soetoro-Ng, desde antes do irmão ser senador - o professor diz que ninguém conseguiria ter resolvido todos os problemas deixados pelo ex-presidente George W. Bush. "Vai levar anos pra reverter os erros cometidos por ele, por exemplo, os ambientais. Obama tentou conseguir um consenso no Congresso, mas os republicanos tem uma mentalidade do século XIX", opina. E finaliza com uma pergunta: "Eles não acreditam que as mulheres têm direitos, nem de controlarem seus próprios corpos. Então em quem você votaria?"
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